Mau uso da Língua Portuguesa reprova índice considerável dos candidatos a estágio em empresas.

Em um país onde o índice de desemprego é muito alto – a taxa no primeiro trimestre de 2022 ficou em torno de 11,1% -, conquistar uma vaga em empresas parece dar a sensação de vencer uma “dança das cadeiras”: a cadeira está ali, sendo disputada por centenas ou milhares de pessoas. E a vitória acontece por detalhes, sendo uma delas o domínio do próprio idioma, algo ignorado principalmente entre candidatos a estágios.

A vaga muitas vezes existe, mas  empresas têm tido dificuldade em encontrar estagiários qualificados para contratar, inclusive em multinacionais. A cada dez candidatos entrevistados, cerca de quatro, cinco não passam no teste de Língua Portuguesa. Alguns aspectos são sinalizados, como problemas na interpretação, elaboração de textos coerrentes  e ortografia, por exemplo: “Nos últimos anos, a gente vem percebendo que está piorando um pouquinho. Tem essa parte da escrita, tem a parte do entendimento mesmo do candidato, onde ele não entende o que está sendo proposto ali na atividade, e tem uns erros ortográficos também”, diz o analista de RH, Guilherme Monteiro.

De acordo com um levantamento do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), responsável pela aplicação de provas para mais de 14 mil empresas em todo país, cerca de 83,5% dos candidatos a vagas de estágio e aprendizagem são reprovados em processos seletivos por apresentarem conhecimento gramatical insuficiente. A pesquisa levou em consideração o desempenho de 59.776 concorrentes. Desses, apenas 16,5%, cerca de 9.845 indivíduos, passaram adiante. Os outros 83,5% (49.931) foram desqualificados.

Segundo Helenice Resende, coordenadora de recrutamento e seleção do Nube, assimilar as regras, possuir boa interpretação e redação são competências imprescindíveis por diversos motivos: “Por meio da comunicação, o colaborador consegue ter um entendimento de quais são suas funções, bem como manter uma boa relação com gestores e colegas. Quando há desfalque dessa habilidade, pode haver dificuldades para compreender tarefas designadas e e-mails recebidos”, exemplifica a especialista. Para entender porque os candidatos cometem tantos erros em português, o Nube fez uma pesquisa com 11,6 mil jovens de 15 e 26 anos, faixa etária com maior reprovação.
O principal motivo apontado pelos entrevistados para o uso incorreto do português é que “as pessoas têm preguiça de ler”, a resposta foi dada por 32,7% dos participantes. A segunda resposta mais dada pelos entrevistados foi “terem se acostumado com o português abreviado nas redes sociais”, com 28,9%.
“Alguns se condicionam muito com esse tipo de ‘escrita encurtada’ e acabam por cometer erros, tanto na elaboração de algum texto, quanto no envio de um simples e-mail profissional”, disse Erick Sperduti, coordenador de recrutamento e seleção do Nube.
Entre os entrevistados, 22,3% ainda disseram “não haver incentivo para a leitura no Brasil”, 13,4% apontaram como causa a “baixa formação dos candidatos” e apenas 2,6% disseram acreditar que “as empresas exigem muito dos candidatos”.
Para a professora Elaine Antunes, idealizadora do curso de redação Escreva, é necessário que instituições de ensino instrumentalizem jovens para o uso da Língua Portuguesa pensando no mercado de trabalho: “As demandas dos vestibulares, sobretudo o Enem, têm direcionado o ensino das disciplinas nas escolas e isso atrapalha muito o processo de formação de estudantes, que deveriam aprender tanto a norma padrão da Língua Portuguesa, quanto o seu uso. Não falo aqui de decorar regras, mas de ensinar como, por que e quando usá-las, tendo o texto como ponto de partida, seja na interpretação, seja na produção escrita. Enquanto não compreenderem que a escola precisa preparar para o mercado de trabalho também, continuaremos vendo desemprenhos ruins em processos seletivos nas empresas”.
Para a professora Elaine Antunes, idealizadora do curso de redação Escreva, é necessário que instituições de ensino instrumentalizem jovens para o uso da Língua Portuguesa pensando no mercado de trabalho: “As demandas dos vestibulares, sobretudo o Enem, têm direcionado o ensino das disciplinas nas escolas e isso atrapalha muito o processo de formação de estudantes, que deveriam aprender tanto a norma padrão da Língua Portuguesa, quanto o seu uso. Não falo aqui de decorar regras, mas de ensinar como, por que e quando usá-las, tendo o texto como ponto de partida, seja na interpretação, seja na produção escrita. Enquanto não compreenderem que a escola precisa preparar para o mercado de trabalho também, continuaremos vendo desemprenhos ruins em processos seletivos nas empresas”.
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